Com certeza, ela já ouviu alguma conversa sobre isso!
Seja por ter irmãos menores, seja por ter alguém na família que está grávida, a pequenina já se pergunta: “acontecerá comigo? E como acontece?”
De alguma forma, em algum lugar, todas as mulheres tem um medo infantil (no sentido de primário, antigo, do passado) do parto, pois é algo muito forte, importante e totalmente desconhecido.
O parto é um momento radical, em todos os sentidos, porque é o momento de grande intensidade emocional e de muitas transformações fisiológicas no corpo da mãe para promover o nascimento do bebê. Para o bebê, é a saída do seu lugar de segurança, dentro do corpo protetor da mãe, para o mundo. Mas mesmo sendo algo tão importante e novo, que pode causar medo e ansiedade, também é algo muito especial de grande realização. Pode e deve acontecer naturalmente.
Muitas ansiedades das gestantes em relação ao parto podem ter sua origem em medos inconscientes arcaicos, relacionados à sua própria experiência de nascimento e à ansiedade vivida por suas mães. Até mesmo fatores de história familiar ou do inconsciente coletivo podem influenciar os sentimentos da mulher em relação ao parto. E isso muda entre as gerações e também entre os países.
No Brasil, o medo e a ansiedade em relação ao parto parecem ser mais comuns que nos países de cultura anglo-saxã, como os Estados Unidos. Lá há uma mentalidade, um ethos de fazer dos pacientes e das gestantes coparticipantes do processo, com grande preocupação em veicular informações e trocas de experiências pessoais como um recurso a mais para ajudar na hora do parto.
As mulheres costumam ficar ansiosas com muitos fatores, os mais variados: como vai ser, se normal, se cesariana; como serão os primeiros sinais, se as contrações são muito desconfortáveis; se vai ser muito rápido ou se demora muitas horas, se vai ter algum risco para a ela ou para o bebê. Também é frequente que o medo seja do pai do bebê ou dos familiares da gestante, que transmitem esse sentimento para ela, quando podiam ajudar na busca de informações e de apoio.
Acredito, pela minha experiência clínica, que o maior fator que possa promover o medo do parto seja um excesso de idealizações em relação à maternidade, que é quando imaginamos tudo perfeito demais, sem nenhum imprevisto, sem surpresas e exatamente como o planejado. Aí, qualquer situação fora do controle gera uma reação emocional de grande desconforto. Estar bem informada, cuidar e conhecer o próprio corpo, suas forças e limitações, conversar com outras mulheres que já passaram pelo parto, conversar com outras gestantes, conversar com o médico sobre os tipos de parto e suas indicações e procurar serviços de aconselhamento e apoio ajudam muito a domar o estresse e a ansiedade excessiva.
É importante dizer que a gestante ansiosa e que teme o parto precisa fazer um trabalho de reflexão para descobrir qual é a causa do seu medo, se é medo de sentir dor, se é um parto muito idealizado, se é o medo da nova vidinha que chega para ela cuidar, se até mesmo é um medo herdado de outras gerações na família.
Identificar o que está causando a ansiedade e fazer um trabalho bem direcionado para afastar as fantasias negativas, conhecendo experiências satisfatórias é um bom começo. É importante encarar o fato de que nada está totalmente sob nosso controle, e que a experiência do parto pode ser desconhecida, mas trazer surpresas muito emocionantes. Confiar no seu/sua obstetra, ir a palestras sobre parto, visitar o hospital em que pretende ter seu bebê, ver se há um programa de informações para as gestantes e acompanhá-lo, ou participar de cursos para gestantes também são um caminho para a troca de experiências enriquecedoras. E, claro, como não dizer, usar essa moderna ferramenta ao alcance das mãos, a internet, para se informar, fazer contatos, trocar impressões e sentimentos.
Bem informada e bem preparada a ansiedade diminui, o parto acontece e seu bebê, antes no ventre, estará nos seus braços!